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Impressões Graciosas

17 ago

Se tivéssemos premeditado não encontraríamos a bicicletada passando pelo centro, mas lá estava ela, no nosso caminho, e a seguimos até a Paulista. Depois do tira-roda, põe-roda, encaixa-aqui, ajeita-ali das bicicletas no bagageiro, fomos (eu, Thomas e Igor) para nossos respectivos lugares no Bonde da Soneca, quase arrependidos de não irmos no do Pancadão que parecia tão alcoolicamente animado. Eis que entra o André e diz ainda restarem 3 lugares no Pancadão, pensamos ‘éramos 3, seria o destino!?’ – Não.

Na parada às três da manhã, ao cruzarmos com o semblante desesperado de Jeanne, de quem estava terminantemente proibida de pregar os olhos, independente da reação natural e involuntária deles, pensamos  – Não mesmo.

Encontramos também Talita bêbada e na bebelança do pancadão algumas substâncias etílicas foram derramadas  sobre ela, que com o chacoalhar no busão = cock-Ta-il. – Nem todo mundo percebeu, mas ela subiu no ônibus errado pra procurar cigarro.

Manhã de sábado: estávamos bem dispostos para a Bicicletada de Curitiba. Do pátio da Federal saímos pedalando pelas ruas da cidade. Foi extasiante ver a comitiva camisetas verdes da turma de São Paulo, presença significativa na massa. E pedalei entre ciclistas que cantavam, levantavam as bicicletas, pessoas de todo tipo e idade – até bebê! – e algumas bicicletas bem excêntricas. O desfecho da pedalada foi no lindo Museu Oscar Niemeyer (ou do Olho), com direito a palhinha do Plá, aqui e lá, no almoço vegetariano, depois de frustrada a tentativa da feijoada. – Dizem que os que ficaram tiveram que esperar por 3 longas horas esfomeados.

Os ciclistas curitibanos foram bastante receptivos, um nos levou até o Jardim Botânico. Perdidos na volta, uma mocinha que passava de bike saiu do seu trajeto só para nos guiar até o hotel!

O Jardim Botânico nem parece que é daqui, tem um ar tão europeu.

E o sábado de sol acabou. Com Skol a R$ 2,80 a garrafa!!! (Impressionante, não?!… rs)

Domingo, 5h30 da manhã (não lembro a última vez que acordei tão cedo!): pular da cama, correr pro café, pegar as bikes.

7h30 começa o percurso para a Descida da Graciosa (Curitiba-Morretes = 77km).

Mas eu nem imaginava que para chegar nessa descida seriam mais de 40km de subidas!! A cada curva que via a frente eu repetia como mantra mental ‘Quando virar, desce! Quando virar, desce!’… e subia de novo. Em alguns momentos pensei que se tivesse mais uma subida eu não conseguiria… mas tinha, e eu conseguia, afinal, não tinha mesmo como voltar pra trás! Cada vez que rolava uma transição brusca entre o asfalto liso e paralelepípedo ou cascalhos parecia que a bike ia desmontar, e eu desmontaria junto, de tanto que trepidava!!

paradinha antes do passeio virar aventura!

Além disso: chuva, muita chuva, sem capa, encharcada, e vento gelado, então, muito, muuuuito frio, trecho de cascalhos, outros com pedras grandes que ficavam escorregadias por conta da chuva, depois lama, Míchkin atolando, Igor ajudando a tirar o amontoado de barro que se formou nos freios e no câmbio. Ah, e também teve a fome! Barrinhas de cereais e gatorade terminaram no meio do caminho. Ou seja: subir era o de menos.

Depois disso tudo: a descida!! Vibramos! Aleluia! Até que enfim! Graças a Deus, Alá, Lula, Buda, Xena, etc…

Alegria durou pouco: ahhhhhh, tô sem freioooo!!! (Eu, Igor, Thomas, Jeanne e mais alguns)

Pronto, mais desespero: descida sinuosa de paralelepípedos escorregadios, debaixo de chuva, neblina e SEM FREIO! Nesse momento eu queria muuuuuito uma subida! Parecia ironia. Descobri que, às vezes, a descida pode ser o pior.

Mas não estávamos sós, tivemos respaldo de várias pessoas: André, Gallo, Samir e outros que ou davam um jeito na corrente que escapou ou tentavam apertar mais o freio pra ver ‘se’ aguentava mais um pouquinho. Foi tenso pacas! Tentava segurar a aceleração natural da bicicleta nas descidas com o resto do que um dia foi uma sapata de freio, tinha medo de pegar muita velocidade e numa daquelas curvinhas safadas não conseguir frear o suficiente e sair pela tangente.

E foi assim, me ‘barreando’ de medo, morrendo de frio, com lenço no rosto, blusa de Igor (além de encharcar a minha também fiz isso com a dele) com o capuz super ajustado e tremendo horrores que desci a que chamam de “Graciosa”.

Quando a descida acabou e vi que todos estávamos inteiros, alívio.

Chegamos no retão final para Morretes. Placa: Morretes – 29km. Antes pareceria muito, mas depois do que passamos, 29km no asfalto e reto não era nada.

Após algumas voltas pela cidade encontramos o ônibus, fomos uns dos últimos a chegar, num total de 9h30 pedalando! Perdemos o famoso barreado, mas eu já estava toda barreada mesmo… rs

Ajudaram-nos a guardar as bikes no ônibus. Gilberto me emprestou uma blusa seca e pude tirar a outra, pesada de tão encharcada. É muito gostosa e reconfortante essa comunhão de todo mundo ajuda todo mundo.

Foi minha primeira viagem de bicicleta. A idéia que eu tinha era que seria um passeio bucólico num dia ensolarado por estradinhas de paralelepípedos, passando por cachoeiras e paisagens lindas. Não foi bem assim, foi aventura!! Prova de resistência! E sobrevivemos!

No fim, a Graciosa teve em mim o efeito montanha-russa: quando você está lá em cima, na iminência do carrinho se desembestar quase em queda-livre, aquele calafrio e a consciência se questionando “Caralho, o que eu to fazendo aqui!? Por que faço isso comigo!?”; depois, no fim do percurso, saindo do carrinho com sorriso de orelha a orelha: “De novo! De novo!”… rs

Na próxima só espero lembrar de levar sapatas extras e capa de chuva.

Míchkin - minha companheira de aventuras!... rs