Vou logo começando com confissões politicamente incorretas. Sou motorista convicta e não abdico do meu carro desde que tirei minha carteira de motorista, aos 18 anos. Desde 2005, eu mantenho dois carros na garagem, para uso exclusivamente meu. Fui morar fora do Brasil em 2007, mas deixei (vergonha!) meus DOIS carros em São Paulo, para usar quando viesse de férias. A “vergonha” está ali nos parênteses porque eu sou dessas pessoas que pregam a vida sustentável, compram comidas orgânicas e offsets de carbono… Aí, as pessoas me perguntam, então, por que eu não troco meu carro por uma bicicleta (ou deixo o carro na garagem, quando possível). Ah, então: é porque eu não sei andar de bicicleta. Ou melhor: não sabia.
Quando eu tinha uns 6 anos, ganhei uma bicicleta: andei nela algumas vezes (sempre com rodinhas), e nunca mais. Depois de “grande”, naquela fase em que já dá um pouco de vergonha admitir para os outros que não sabia andar de bicicleta, já não me importava muito, porque sempre tive carro, e sempre pensei na bicicleta como um lazer, e não como meio de transporte.
Até que, em janeiro de 2011, me mudei para uma dessas cidades ultra-civilizadas, com vários quilômetros de ciclovias/ciclofaixas, bicicletas para se alugar (baratinho!) a cada esquina. Uma cidade onde as pessoas usam bicicletas como meio de transporte! Passado o choque cultural, fui criando essa ideia de que, cedo ou tarde, eu teria que aprender a pedalar.
Sem carro por lá, passei quatro meses fazendo tudo a pé. Até que, em maio, “ganhei” uma bicicleta. Ganhei entre aspas. Na verdade, ela me foi emprestada por tempo indeterminado por um amigo. Mas dessa vez, ao invés de repetir aquele “obrigada, mas não sei andar de bicicleta”, mandei um “obrigada, porque vou aprender a andar de bicicleta nos próximos meses.”
Porém, de férias em São Paulo, desanimei de novo. Como eu poderia aprender a andar de bicicleta aqui? Coincidência enorme (“serendipidade”, eu diria) uma amiga comentou sobre a Oficina Aprendendo a Pedalar. Na hora, animei e fiz os planos para o Dia D. Era agora ou nunca (já estou chegando nos 30 anos, então, o “agora ou nunca” para mim tem tido um peso maior).
No domingo à tarde, cheguei toda apreensiva na Praça Vegana, mas encontrei só sorrisos – e várias bicicletas que as meninas disponibilizaram para nós. O pessoal estava super animado para nos ensinar a ter coragem de ir tirando os pezinhos do chão.
Comecei assim mesmo, seguindo os ótimos conselhos da Aline: sentada na bicicleta com o banco bem baixinho, para eu poder apoiar os dois pés inteiros nos chão, e sem chegar perto dos pedais. Fui andando assim , até entender o basicão do equilíbrio e criar coragem para tentar dar a primeira pedalada. Não que eu já tenha saído pegando velocidade. A primeira pedalada foi só para sentir o tempo da bicicleta, a hora certa de dar o impulso e começar a pedalar.
A partir daí, fui de volta à infância, dando algumas voltinhas (aí sim, pedalando!), mas com a Aline ali atrás, firme e forte segurando a bicicleta. E ela não soltou! Aliás, ela ficou lá (coitada!) correndo horrores atrás de mim, equilibrando a bicicleta à força quando eu começava a tombar para um lado ou para o outro. E sabe aquela coisa clássica de gente que, querendo te ensinar, percebe que você já pegou o ritmo e te solta? Isso era a coisa que eu mais temia. Mas dessa vez, não aconteceu. A Aline só soltou quando eu estava 100% (bom, 70%, na verdade) confiante de que eu conseguiria pedalar. E aí, ela avisou que já dava para e ir sozinha e que iria me soltar. Concordei e… pedalei! Eu aprendi a andar de bicicleta!!
Contando assim, parece que o processo foi super longo, mas acho que levou uns 20 minutos. Depois de superado esse medo inicial, fiquei mais um bom tempo pedalando, aprendendo a ter um pouco mais de controle sobre a estabilidade – e aprendendo a frear (porque uma hora a gente tem que parar)! E ainda experimentei alguns tipos diferentes de bicicleta (dobráveis, maiores, menores).
Claro, não virei uma expert, afinal foi só uma tarde de pedaladas. Preciso dedicar mais tempo a aprender a fazer curvas, trocar marchas etc. Não é de um dia para o outro que eu vou sair por aí, andando de bicicleta pelas grandes avenidas de São Paulo. Mas, para quem esperou 28 anos para dar a primeira pedalada, algumas semanas a mais de prática não farão mal algum.
Ah, e se alguém estiver querendo comprar um carro, o meu está à venda!